Ana Carolina Seleme*
Este é um ano de transição. A Geração Z, formada por pessoas nascidas entre a segunda metade da década de 1990 e o ano de 2010, deve ultrapassar os Baby Boomers na força de trabalho até o final de 2024. E a previsão é que supere o predomínio dos Millennials em menos de 20 anos.
Esse movimento geracional se reflete no ambiente das organizações. São profissionais das mais diversas faixas etárias atuando juntos, colocando o conflito de gerações no centro do mundo corporativo.
Hoje é possível encontrar em uma mesma empresa cinco gerações ocupando cargos semelhantes, dividindo tarefas e participando do mesmo processo de decisão.
Com o aumento da perspectiva de vida em todo o mundo (no Brasil, supera os 75 anos), além de questões econômicas (aposentadoria insuficiente) hoje temos até mesmo remanescentes da geração chamada de Veteranos ou Silenciosa (1925 e 1945) na ativa.
Os Baby Boomers, nascidos entre 1946 e 1964, constituem ainda uma grande força de trabalho. Já a geração X (1965 a 1980) e a Y ou Millennials (1981 a 1996) estão em plena atividade. Enquanto os Zoomers, a geração Z (1997 a 2010), em início de carreira, ainda nem chegaram aos 30 anos.
Um dos maiores desafios das empresas é harmonizar as diferenças, aparentemente inconciliáveis, entre a forma de pensar e de agir de cada uma dessas gerações.
Quem são
Os Veteranos valorizam a tradição, a hierarquia e a estabilidade. Permanecem trabalhando porque querem ou porque precisam. Os Baby Boomers, muitos com passado engajado e idealista, hoje estão aposentados ou perto da aposentadoria. Eles prezam pela saúde e buscam estabilidade financeira e segurança no emprego.
A Geração X, que viveu uma grande transformação tecnológica, caracteriza-se pela independência, praticidade e autonomia. Os representantes dessa geração valorizam muito a saúde física, são ambiciosos e competitivos.
Os Millennials receberam o impacto da globalização. São associados à criatividade e à inovação. Também são questionadores e valorizam a diversidade e a colaboração.
Já a Geração Z é formada pelos nativos digitais. Conectados, multitarefas, rápidos e independentes, eles têm pouca paciência com processos demorados, desconhecem fronteiras e querem poder escolher novos formatos e horários de trabalho. Esses jovens têm forte responsabilidade ambiental e social e são defensores da diversidade e da inclusão. Para eles, liberdade é muito melhor que estabilidade. E valorizam igualmente a saúde física e a mental.
Essa nova geração, onde os mais velhos estão dando os primeiros passos no mercado de trabalho, é, de longe, a que atualmente causa mais impacto no mundo corporativo.
A Great Place to Work, consultoria global que certifica as melhores empresas para se trabalhar, fez uma pesquisa com o RH de 1.864 organizações e mais de 68% apontaram a geração Z como a mais difícil de se adaptar ao ambiente de trabalho.
Desafios e oportunidades
Certamente os Zoomers não são o único desafio das empresas neste momento. Com cinco gerações atuando juntas, a questão é: como evitar conflitos, criar um ambiente corporativo saudável e ainda aproveitar toda essa diversidade geracional para aumentar a produtividade, criatividade e, claro, os lucros da empresa?
Em primeiro lugar, é preciso antecipar e gerenciar choques culturais. Para isso, é fundamental conhecer a representatividade de cada geração na empresa. Pesquisas internas vão auxiliar a entender melhor as expectativas de cada um, facilitando a definição de políticas, planos de carreira e benefícios que possam atender a todos.
Realizar eventos e atividades que reúnam as diversas gerações é uma opção para aproximar e criar empatia e sinergia entre os profissionais. Práticas organizacionais que favoreçam o desenvolvimento e o diálogo também são positivas.
Diversificar a comunicação é outra boa estratégia. As diferentes gerações têm mais familiaridade com alguns canais, por isso vale utilizar uma gama deles, como e-mail, WhatsApp e redes sociais.
Independentemente da idade do profissional, o gestor deve ter compreensão das competências, habilidades, qualificações e limitações de cada um no momento de dividir as tarefas e definir cargos. Saber lidar e tirar proveito de cada uma dessas características. E mesclá-las, oferecendo os recursos e oportunidades necessárias.
O papel do líder é, justamente, observar, compreender e facilitar a comunicação entre as gerações para obter uma melhor performance da organização. E cabe ressaltar que a capacidade dos mais velhos em se adaptar à cultura dos mais novos é enorme, assim como dos mais jovens em aprender e se aperfeiçoar com a experiência dos profissionais com mais tempo de trabalho.
Por isso, um dos pontos mais importantes é que a empresa se posicione de forma clara e positiva e promova internamente, como valores institucionais, a igualdade, a pluralidade e a inclusão, em todos os aspectos.
Menos crise e mais lucro
Com o conflito de gerações equacionado, é hora de aproveitar os benefícios de ser uma organização multigeracional. A pluralidade proporciona uma riqueza de conhecimentos e de experiências, permitindo às empresas explorar o potencial dos trabalhadores de diferentes gerações.
Ao combinar o melhor de cada um, a produtividade tende a aumentar. Além disso, quando um profissional integra um ambiente muito diferente do seu perfil, ele tem mais oportunidades de crescimento.
Um estudo recente da Ong inglesa Age UK revelou que funcionários de empresas multigeracionais têm maior probabilidade de se sentirem engajados e motivados, aumentando as taxas de satisfação no trabalho, a produtividade e a retenção de talentos. Com menos turnover, as companhias reduzem os custos com contratações e treinamento.
O mesmo estudo apontou que as organizações com uma distribuição etária equilibrada estão mais bem equipadas para satisfazer as necessidades de sua base diversificada de clientes, levando ao aumento das vendas e das receitas.
Outra análise, desta vez da PwC, uma das maiores multinacionais de consultoria e auditoria do mundo, destaca que a maior diversidade etária contribui para a resiliência corporativa. Segundo a consultoria, a presença de diferentes gerações na administração de uma empresa contribui para um índice de solvência mais elevado e, portanto, para uma organização mais resiliente.
Abrir espaço para diferentes pontos de vista e experiências ajuda, e muito, na tomada de decisões. São mais opções de ideias e soluções.
Os anos de formação e de atuação dos profissionais mais velhos se somam ao conhecimento e ousadia dos nativos digitais, mais receptivos à constante evolução tecnológica. Essa mescla favorece a inovação e fortalece a empresa em momentos de mudanças e crises.
A multinacional de consultoria Ernst & Young reforça essa conclusão. Ao analisar dados de 2,4 mil empresas de 54 países, com base nos parâmetros diversidade, transformação digital, propósito, cultura, entre outros, concluiu: nas empresas com maior diversidade, o trabalho colaborativo duplica as possibilidades de desenvolvimento de novas soluções.
A consultoria afirma que uma diversidade significativa resulta em um crescimento sustentado e lucrativo 1,4 vezes maior.
Resumindo, ao optar por equipes multigeracionais e implementar estratégias para apoiar a diversidade etária, as empresas podem colher os benefícios de uma melhor resolução de problemas, tomada de decisões e adaptabilidade, além de aumentar sua produtividade e resiliência.
Equilibrar diversas gerações em um mesmo ambiente, dá trabalho, é verdade. Mas compensa.
*Ana Carolina Seleme é advogada, mediadora e dirige a Seleme Consulting. É gestora do maior acordo coletivo do Judiciário brasileiro.